" Inveja e ciúme!

Felizes os que não conhecem esses dois vermes vorazes. Com a inveja e o ciúme não há calma, não há repouso possível. Para aquele que sofre desses males, os objetos da sua cobiça, do seu ódio e do seu despeito se erguem diante dele como fantasmas que não o deixam em paz e o perseguem até no sono.
O invejoso e o ciumento vivem num estado de febre contínua. É essa uma situação desejável? Não compreendeis que, com essas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, e que a terra se transforma para ele num verdadeiro inferno?"
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Quarto. Capítulo I. Penas e Gozos Terrenos. Parte da resposta à pergunta 933.)
O nosso apego aos objetos e às pessoas tem, no ciúme, uma das suas formas de manifestação. O zelo demasiado, o cuidado excessivo, a valorização descabida aos nossos pertences chegam às raias da preocupação, do desequilíbrio, do desassossego, nas reações do indisfarçável ciúme. É mesmo um estado febril de intranquilidade, que pode nos tirar o sono muitas vezes. O ciúme anda próximo da inveja. Ambos são expressões da cobiça, e se manifestam no nosso desejo de posse ou na nossa condição possessiva, ambiciosa, egoísta.
Quando o ciúme se refere às pessoas do nosso relacionamento, é indício da paixão, do amor ainda condicionante, dominante, restritivo, exclusivista. Ninguém em verdade pertence a outrem. Alguns pares, no entanto, podem desenvolver laços afetivos que os liguem a compromissos ou a tarefas comuns, como entre cônjuges, por exemplo, assumindo responsabilidades a dois, num desejável clima de compreensão, tolerância e respeito mútuo.
Os suplícios ou tormentos muitas vezes são criados voluntariamente, quando começamos a exigir, a cobrar do outro, o que achamos ser de sua obrigação: o ciúme impõe condições. É assim que quase sempre se origina a inconformação, o desespero, o desentendimento entre casais. Respeito e liberdade, de ambas as partes, na confiança que edifica, e fortalece, aprofunda a amizade para muito além dos limites de uma paixão, tudo isso pela admiração construtiva, mútua, que estimula o bem proceder e amplia o reconhecimento dos valores individuais dos dois. Quantos ciúmes doentios não geram desconfianças e desarmonias desnecessárias?
Por que vamos, então, transformar nossa vida num verdadeiro inferno? Procuremos serenamente indagar o porquê dos nossos ciúmes. Com que sentido nos deixamos envolver por eles? Será por carência, ou por insegurança? Por apego ou desespero? Localizemos as causas do apare­cimento desse fantasma que é o ciúme. Fantasma criado pela nossa imaginação, que pode estar mal informada ou até deformada, e que precisa ser realimentada com a confiança, a fé, o otimismo, a esperança, a alegria, a dedicação e o desprendimento, para sermos felizes em profundidade, gerando felicidade e bem-estar em volta de nós.
Ney Prieto Peres

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